Sam Elliot é um competente executivo do Vale do Silício que se viu sobrecarregado depois que sua empresa foi adquirida por outro grupo maior. Como estava decidido a se sair bem em seu novo papel, sem pensar direito, disse sim a muitos pedidos.
Como resultado, tentando atender a todos e cumprir todas as tarefas, a qualidade de seu trabalho caiu. Ele passou a se dedicar mais às atividades menos importantes e seu desempenho se tornou insatisfatório para si mesmo e decepcionante para aqueles que ele tanto queria agradar.
No meio dessa frustração, a empresa o procurou e lhe ofereceu um plano de aposentadoria precoce. Mas, com 50 e poucos anos, ele não tinha o mínimo interesse em parar de trabalhar.
Então ele procurou um coach, que lhe deu um conselho surpreendente: “Fique, mas faça o que faria como consultor e nada mais. E não conte nada a ninguém.” Em outras palavras, o mentor o aconselhou a só fazer o que considerasse essencial — e ignorar o resto que lhe pedissem.
O executivo seguiu o conselho.
– Comprometeu-se a reduzir sua participação em atividades burocráticas, dia após dia. Começou a dizer não.
– Passou a avaliar os pedidos com base no seguinte critério: “Será que consigo atender a esse pedido com o tempo e os recursos de que disponho?”
– Quando a resposta era não, ele se recusava a atender à solicitação. Ficou agradavelmente surpreso ao descobrir que, embora a princípio parecessem um pouco desapontadas, as pessoas pareciam respeitar sua franqueza.
Estimulado por essas pequenas vitórias, ele foi um pouco mais além.
– Agora, quando lhe faziam um pedido ele o analisava usando critérios mais exigentes: “Essa é a coisa mais importante que eu deveria fazer com meu tempo e meus recursos neste momento?”
Se não conseguisse responder sim categoricamente, não executava a tarefa. E mais uma vez, para sua imensa satisfação, embora no início ficassem decepcionados, logo os colegas passaram a respeitá-lo mais – e não menos – pela recusa.
Antes, ele sempre se oferecia para realizar apresentações ou tarefas que surgiam de última hora; agora, dava um jeito de não ser convocado. Costumava ser um dos primeiros a responder a um e-mail com vários copiados; agora, apenas lia e deixava que os outros tomassem a dianteira. Esses são apenas alguns exemplos de atividades do dia a dia que passou a dizer não.
A princípio, pareceu uma atitude individualista. Mas ao ser seletivo, Sam obteve mais espaço para si, e nessa brecha encontrou liberdade criativa. Agora ele concentrava seus esforços num projeto de cada vez. Era capaz de planejar meticulosamente. Conseguia prever barreiras e começar a remover obstáculos.
Ele continuou assim durante vários meses. Descobriu de imediato que, além de render mais no trabalho, à noite ele ainda tinha mais tempo para aproveitar em casa. “Recuperei a vida familiar! Consigo chegar em casa numa hora decente”, disse. Hoje, em vez de ser escravo do celular, ele o deixa desligado nas horas vagas. Vai para a academia, sai para jantar com a mulher.
Para sua grande surpresa, a experiência não teve repercussões negativas. Ele não foi punido nem criticado pelo chefe. Os colegas não se ressentiram, pelo contrário; Sam ficou apenas com os projetos que eram significativos para ele e realmente úteis para a empresa.
Esse é um trecho do livro: Essencialismo! Um dos melhores livros que eu li esse ano.
E por que resolvi trazer ele aqui?
Bem, os mais atentos já perceberam, fazia três semanas que eu não enviava a newsletter “Sinais x Ruídos”.
O principal motivo é: eu estava fazendo muitas coisas ao mesmo tempo, assim como Sam Elliot. E fazer muitas coisas ao mesmo tempo te faz deixar o que deveria ser prioridade de lado. E essa newsletter para mim é uma prioridade. E, portanto, não poderia ficar em segundo plano.
De maneira extremamente resumida, Greg McKeown mostra, no livro, a importância de dizer “não” a tudo que não for prioridade e, em vez disso, focar no que é verdadeiramente essencial. É o famoso “Se não for um sim óbvio, então é um não óbvio!”.
Algumas coisas que ele fala:
– Somente quando você se der permissão para parar de tentar fazer tudo, parar de dizer sim a todos, poderá dar sua maior contribuição para as coisas que realmente importam.
– Se você não priorizar sua vida, outra pessoa o fará.
– Antes de dizer sim a qualquer coisa, o essencialista se pergunta: “Isso contribui para o objetivo que tracei?”
Me identifiquei!
Na ânsia de mudar as coisas, de causar impacto, sempre inicio uma nova empreitada. O resultado, muitas vezes, é o que Greg mostra no livro: estamos cansados, imersos em trabalhos e avançando muito pouco. Avançamos 1 metro em várias direções quando, na verdade, o melhor seria avançar 100 km em uma direção só.
Quem se sente assim, eu imagino que tenha ficado com vontade de ler o livro.
Frase da Semana
“Possivelmente o erro mais comum de um engenheiro inteligente é otimizar algo que não deveria existir.”
Elon Musk
Abs, Leo Siqueira!